terça-feira, 13 de maio de 2008

Vilão ou Redentor?


“És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho, Tempo Tempo Tempo Tempo, vou te fazer um pedido, Tempo Tempo Tempo Tempo. Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos, Tempo Tempo Tempo Tempo entro num acordo contigo, Tempo Tempo Tempo Tempo. Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, Tempo Tempo Tempo Tempo és um dos deuses mais lindos (...)” (Canção ao Tempo, Caetano Veloso).


Fonte de inspiração para muitos artistas e poetas, o Tempo muitas vezes assume feições opostas: Ora ajuda a construir mitos e heróis, ora condena ao esquecimento e ao descaso. O efeito dos anos é uma ação inevitável que pode surtir os mais diversificados efeitos.

Muita coisa muda com o passar dos anos. Pessoas envelhecem, morrem, paisagens são modificadas, surgem novos conceitos, novas regras, novos valores. O tempo passa, e é responsável não apenas por deixar lembranças e trazer saudades, como também por glorificar e punir. Os exemplos são tantos...

Nascido em 1853, na Holanda, Vicent Van Gogh é apontado hoje como um dos maiores expoentes do pós-impressionismo, um pintor com genialidade inquestionável. Porém, em vida, ele foi completamente ignorado pela crítica e pelos artistas, tendo conseguido vender apenas uma obra. Passou frio, fome, e viveu em barracos numa vida miserável. Sempre sustentado pelo irmão, Van Gogh teve o talento reconhecido apenas após a morte e, atualmente, seus quadros estão entre os mais caros do mundo. Em maio de 1990 sua obra “O retrato de Dr. Gachet”, pintada justamente no ano de sua morte, um século antes, foi comercializada por 82,5 milhões de dólares. O Tempo o tornou um artista consagrado.

Fidel Castro e Che Guevara são exemplos de revolucionários do século XX. Ambos lutaram juntos, participaram da mesma revolução, defendiam os mesmos ideais. No entanto, o mesmo Tempo que fez de Che um “herói” admirado até hoje, um ídolo de jovens de todo o mundo, exemplo de “fidelidade total e devoção à união dos povos subjugados”, fez de Fidel um líder altamente criticado, um exemplo de concentração de poder. No ano de 1953, em julgamento pelo ataque ao quartel de Moncada, Santiago de Cuba, Fidel proferiu a famosa frase “A história me absolverá”. A história o está julgando, mas não se sabe ainda se o Tempo concederá o veredicto que ele esperava.

Pedro Álvares Cabral foi, indubitavelmente, um homem de muitas glórias. Homem culto e de grande habilidade no manejo de armas, esse navegador português recebeu aos 33 anos uma missão extremamente importante: recebeu do rei Dom Manuel o comando da maior armada construída por Portugal até então, constituída por 13 embarcações e 1500 homens. Embarcou em nove de março de 1500 em direção às Índias, num caminho recém descoberto por Vasco da Gama. No entanto, por acidente de percurso ou mudança estratégica de rota, acabou por chegar a uma terra nova, sendo responsável pelo intento de descobrir o Brasil.

Quando retornou a Portugal, foi recebido com festa em Lisboa e tornou-se um dos homens mais poderosos do reino. Porém, desentendeu-se com o rei e acabou sendo banido da corte. Morreu em 1520, esquecido e sem qualquer prestígio. Os dizeres gravados em sua lápide são totalmente destinados à sua mulher, Dona Isabel de Castro, camareira-mor da infanta Dona Maria. Hoje, os livros de história em Portugal não atribuem glória alguma ao homem que descobriu a colônia que mais rendeu riquezas ao país. O Tempo tratou de condenar Cabral ao esquecimento em terras lusitanas.

Assim, o Tempo tem o poder de conferir glórias e também de trazer desprestígio. Indivíduos que hoje gozam de muito poder, amanhã podem ser condenados ao obscurecimento, pessoas que hoje são desvalorizadas podem sagrar-se posteriormente a uma posição de destaque. No entanto, não se pode esquecer de que muito do que nos acontece é resultado de nossas próprias ações. “Todo mundo colhe o que planta”, é o que diz o velho ditado. No mais, vamos viver. O que o Tempo nos reserva? Não sei. Essa é uma resposta que só ele mesmo dará.

por: Daniele Valois

1 comentários:

Anônimo disse...

Tempo, tempo, tempo mano velho...
eh verdade Dani, o tempo eh o senhor da história e eh responsável por mudanças inesperadas...
Abraço, adorei o post

 

VALE COMENTAR. Powered By Blogger © 2009 Bombeli | Theme Design: ooruc